[A]Linha neste Filme: Precious

Entrevista: A perspetiva de Luciana Sotero sobre o filme Precious

 

 

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O Ciclo de Cinema [A]Linha neste filme, chegou ao fim no passado dia 16 de Abril. A primeira sessão que teve lugar no dia 30 de Março, contou com a participação da professora doutora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Luciana Sotero. O filme Precious foi o ponto de partida para um debate sobre as relações humanas que envolveu todos os presentes. Luciana Sotero respondeu a algumas questões e partilhou com a SOS Estudante a sua perspetiva sobre a história de Precious.

Quando viu o filme pela primeira vez qual foi a mensagem principal que assimilou enquanto espectadora e profissional? Após a sessão de quarta, algo mudou?

Luciana Sotero – A primeira vez que vi o filme foi justamente quando comecei a preparar a tarefa que me foi proposta. Embora tivesse já ouvido falar sobre o filme e os prémios que ganhou, parti para a tarefa com a “mente aberta” em relação ao que ia ver e podia esperar. Durante os primeiros 20/30 minutos do filme fiquei um pouco inquieta com o que via – é um filme violento e poderoso, capaz de ativar o espetador mais distraído. A crueza das cenas de violência familiar, pautadas por violência sexual, física e psicológica, creio que dificilmente deixam alguém indiferente. Contudo, a personagem principal mostra-nos como é possível, mesmo em circunstâncias de vida muito adversas e desafiantes, começar a “escrever” uma nova narrativa, (re)descobrindo competências, forças e recursos, interrompendo o ciclo de violência e pobreza em que estava aprisionada. Esta foi a principal mensagem que, como espectadora e como profissional, acabei por reter e procurei fazer passar. No fundo, é uma mensagem de esperança, que coloca a enfâse na interação entre os múltiplos fatores de risco e de proteção ao longo do tempo, destacando a influência de fatores individuais, familiares, sociais e culturais nos processos de resiliência, consubstanciando assim uma leitura ecológica e sistémica, que tanto aprecio e com a qual me identifico. Em síntese, a história da Precious mostra-nos, tal como a investigação na área da saúde mental, que não há uma relação direta e determinista entre a vivência de um passado marcado por dificuldades, maus-tratos e abusos, e um futuro inevitavelmente “perdido”.

Durante o debate pediu à plateia para identificar um lema que traduzisse a principal mensagem do filme. Qual é o lema que para si melhor se enquadra nesta obra cinematográfica?

L.S. – No dia do debate surgiram vários lemas interessantes e com alguns pontos de contacto entre si, nomeadamente destacando a noção de esperança, a importância das relações interpessoais, e o facto de uma grande mudança ser um processo que se desenvolve através de mudanças menores. Mais do que destacar um lema, ou qualificá-lo como “melhor enquadrado”, dado que todos refletem pontos de vista distintos e complementares da mensagem filme, gostava de citar uma investigadora de relevo na área da resiliência familiar da qual me lembrei quando vi o filme: “The paradox of resilience is that the worst of times can also bring out our best” (Froma Walsh, 2003).

Fazendo um balanço, que conclusões retira desta sessão de cinema e debate? Qual acha que é a importância da abordagem das temáticas presentes neste filme, na atualidade, entre a comunidade estudantil e o público em geral?

L.S. – O  balanço é muito positivo. Fiquei agradavelmente surpreendida com (1) o número de participantes (a lotação estava praticamente esgotada), (2) a sua heterogeneidade (diferentes nacionalidades, idades, géneros, e oriundos de diversas áreas de estudo) e (3) com o envolvimento dos presentes nas tarefas propostas. Creio que estes aspetos acabam por responder à sua questão. Isto é, a comunidade estudantil mobiliza-se e participa nas atividades quando, provavelmente, estas lhe fazem sentido. Dito de outro modo, as ações ou iniciativas que promovam momentos de partilha, de interação e de reflexão conjunta serão seguramente bem vindas, particularmente quando abordem temas intemporais como é o caso da violência, da discriminação, da pobreza ou do sofrimento humano.

Texto: Liliana Pedro
Estudante de Jornalismo e Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Colaboradora da SOS Estudante